" O copo, em formato octavado, escorregou de sua mão, mas não quebrou, simplesmente rolou. Era amarelo, parecia ter vindo direto dos anos 50. O conteúdo era uma incógnita, mas, pelo odor, parecia ter sido uísque. Ela já não estava mais sóbria. Estava estirada na poltrona de couro vermelho e pés de palito, usando um vestido esbranquiçado que ia um pouco abaixo do joelho. O cabelo bem preto cobria uma parte de sua face e de seus lindos olhos verdes.
A televisão mantinha-se ligada. Estava passando o noticiário: '(...) e os manifestantes acabaram por fechar duas faixas da Avenida Paulista que iam no sentido Paraíso, gerando um grande engarrafamento desde o Conjunto Nacional até o lugar da manifestação, um na altura da estação Brigadeiro do metrô...'
Ela não assistia. Ninguém assistia. Na verdade, ela não mais comia, nem saia, nem se divertia, nem dormia, a não ser que tomasse remédio ou derrubasse a garrafa de uísque, vodka, rum ou qualquer coisa que se encontrasse lá, em seu apartamento, ainda, e que pudesse dar a sensação de prazer, relaxamento, sono e, depois, era inevitável, a ressaca.
Acabou por perder o emprego, já que fora trabalhar, por três dias seguidos, alcoolizada. Mais um dos ingredientes para essa eterna depressão.
Seus amigos não ligavama mais para ela, seu noivo a deixara, faltando apenas 2 meses para o casamento, foi expulsa de casa pela própria mãe, que não queria uma filha alcoólatra...
Acabou por ir morar na casa de uma amiga. Pior que ela.
Não entendia aquela situação, mas o homenzinho de terno e cartola tinha a resposta para tudo, ele era magnífico! Não sabe-se, ao certo, o que ocorreu naquela noite, mas ela não sentia mais seu corpo. Começou pelos pés, pernas, subiu até a barriga e os seios. Depois foi mãos e braõs, ombros e, por fim, chegou nos olhos: cegara.
Sentiu-se como se desprendesse do seu corpo. O que era aquilo? Seria efeito da bebida? Era tudo tão real...
Quando a amiga chegou em casa, já não tinha jeito. O que restara era ligar para a ambulância, que nem chegou a leva-la ao hospital, chamaram o carro do Instituto Médico Legal ali mesmo.
Na sala de estar, onde estivera antes, restavam apenas a sua amiga de apartamento, chorando (sim, ligavam para ela!), a poltrona de couro vermelho e pés de palito e o copo amarelo octavado que parecia muito ser dos anos 50..."
6 comentários:
thi, eu adoro os seus textos! são muito bonitos, e intensos... por enquanto esse é o meu preferido! :)
O Johnny é um assassino... E poxa, a manifestação tinha que ser do lado de casa? That's the true, ninguem assiste ao noticiario, filosoficamente falando
Ai que triste :( bateu até uma deprê! haha :)
adoreii esse texto ! parabens thi !
Beeeijo :*
Aiii que profundo, me sinti uma inutil indo em bailes funks! hahaha brincadeira! Parabéns pelo blog thii! beeeeijo
Genial, sua morte foi morte matada? ou seria morte morrida?
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